Ultimamente, minha vida tem sido uma novela... E com tudo o que tem direito: enredo água com açúcar, mocinho e mocinha que se amam e nunca ficam juntos, triângulos amorosos, discussões, encontros, desencontros, noites insones, choradeiras...
O pior é que, ao contrário dos folhetins acompanhados na televisão, outrora, no rádio, o autor da minha telenovela é desconhecido. Escreve de maneira anônima. Me entrega os capítulos do dia de acordo com o passar das horas, sem que haja tempo para ensaios ou decorebas.
O enredo, também, é uma incógnita. Sem falar do elenco, que entra e sai sem deixar rastro, figurantes que nada mais fazem do que rápidas aparições, às vezes nada marcantes no telespectador, além dos protagonistas e antagonistas característicos de histórias como estas.
Quem tem acompanhado minha sina, diverte-se e/ou emociona-se com o andar dos capítulos; por vezes cômicos, por vezes dramáticos, por vezes um misto de ambas as coisas.
Meu interlocutor recebe minha mensagem de maneira atenta, curiosa; percebo que consigo prender sua atenção, fidelizar sua audiência...
(Amigos, os de verdade, são nossa melhor platéia: faça chuva, ou faça sol, estão sempre presentes para nos aplaudir; ou vair, quando necessário. Mas estão lá. Presentes. E a presença deles é o que nos mantém atuando vida afora.
Voltando à novela da minha vida, os últimos capítulos exibidos apontam para o término da história. E pelo exposto, parece que o roteiro terá um final feliz: após 66 dias de múltiplos acontecimentos, parece que, finalmente, ou felizmente, o galã ficará com a estrela principal. Narcisismo à parte, essa foi a promessa dele: em pouco tempo estaremos juntos. E para sempre.
E enquanto espero, ansiosa e esperançosamente, a entrada dos letterings the end na minha tela, reservo um pequeno espaço do meu tempo para eventuais surpresas...
Sim, porque sendo a vida tão imprevisível como ela é, e sendo as pessoas tão egoístas e acomodadas como elas estão, sempre conto com a possibilidade de, na hora H, vir aquele tsunami e arrastar para bem longe meus planos e sonhos.
E, embora eu queira acreditar que aqui não existe este tipo de calamidade, e ainda que eu espere, de todo meu coração, por um final feliz, uma atriz de verdade precisa saber encenar- e encarar- qualquer papel na sua carreira, por mais difícil que este o seja.
E como cada trabalho realizado ao longo dos anos vai nos amadurecendo e nos aprimorando, enquanto personagens reais, certifico-me de que todo este tempo empregado nesta história não foi em vão. Alguma mensagem eu deixarei, ou alguma lembrança carregarei sempre comigo.
Com qualquer que seja o final da minha personagem.
Que assim seja.
FIM.